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Foca da investigação 

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Na faculdade de jornalismo, em Goiânia, Yago Sales já se interessava em pautas investigativas. E foi com esse olhar que o então estudante de jornalismo viu em um terminal de ônibus da capital goiana uma pauta que renderia maior apuração. Ele estava diante de um caso que nenhum veículo de comunicação havia notificado até então: um pastor evangélico que era suspeito de explorar e agredir internos em uma clínica para dependentes químicos, em Aparecida de Goiânia, região metropolitana da capital de Goiás. Condenado por homicídio e por tentativa de assassinato em 2012, o pastor Daniel Moraes, na época, já era foragido da Justiça. Durante quatro meses de investigação, Yago Sales revelou a verdade por trás do discurso de “salvação” do pastor que já tinha sido condenado pelo Tribunal do Júri a nove anos de prisão.

“Estava em campo, querendo conhecer personagens, como viviam os internos da Clínica. Foi quando eu escutei alguém falando que estava vindo um pastor, ele [pastor] diz que vai matar [um dos dependentes químicos]. Aí vi que isso era notícia, que ia render uma história”, relembrou o agora já formado jornalista.

Detalhes da investigação

Era manhã do dia 7 de novembro de 2016, Yago Sales observava toda a movimentação do Terminal Isidória em Goiânia. Daniel Batista de Moraes, 31 anos, entregou o celular à mulher dele, Geice Moreira Moraes, e escondeu a taser de choque no bolso. O pastor Daniel – como gosta de ser chamado – vasculhava os ônibus que chegavam ao Terminal. Ele estava a procura de Marcos Antônio Pina Santos. Marcos havia sido internado na casa de recuperação Instituto Resgatando Vidas. Ele vendia balas nos ônibus em Goiânia e deixou a instituição de Daniel para vender kits por conta própria.

“O jornalista tem que ter o ouvido muito aguçado. A partir dessa experiência, eu comecei a valorizar muito mais a característica de investigação”, afirmou Yago Sales.

Olhar investigativo

A partir do olhar investigativo o então estudante de jornalismo Yago Sales descobriu que o pastor Daniel estava foragido da justiça. Em 2012, ele foi sentenciado pelo 1º Tribunal do Júri de Goiânia a nove anos de prisão pelo assassinato de Damião Batista de Carvalho, ocorrido na noite do Natal de 2007. Daniel matou Damião a pedradas e pauladas após discussão durante uma festa de confraternização natalina, no Residencial Eli Forte, na Capital de Goiás.

Ameaças

Toda a investigação foi publicada no início de 2017 pelo semanário goiano Tribuna do Planalto. Durante e depois de todo o trabalho investigativo, Yago Sales recebia alertas que o pastor Daniel era uma pessoa perigosa.

“ No mesmo dia que eu publiquei a matéria, eu recebi várias mensagens em inbox no Facebook, de pessoas que falavam que que o pastor era muito perigoso”, ressaltou o jornalista.

Depois da publicação da reportagem investigativa, Yago Sales acreditava que estaria mais seguro, pois o caso estaria público. Foi então que as ameaças começaram a surgir mais claramente.

“No dia seguinte, o pastor mandou áudios para uma das minhas fontes. Essa fonte se sentiu ameaçada. Ele dizia que nós teríamos conseguir 10 medidas protetivas e pedir para Deus por causa das retaliações”, contou o jornalista.

FOTO: Divulgação

Escolta policial

Segundo o jornalista responsável por toda a investigação, a imprensa local de Goiânia não deu destaque para caso no momento que a matéria foi publicada. Os veículos de comunicação só começaram a noticiar o caso depois que Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) publicou uma nota dizendo que acompanhava com "apreensão" a situação do repórter goiano Yago Sales. A Abraji chegou a solicitar por meio de um oficio escolta policial para Yago.

“O oficio foi enviado para o Secretário de Segurança Pública, solicitando uma escolta policial para preservar a vida do jornalista”, lembrou Yago.

Depois de 24 horas da solicitação de escolta da Abraji, o pastor Daniel Batista de Moraes foi preso pela Policia Civil de Goiás em outra cidade da região metropolitana de Goiânia.

“Cumpriu-se o mandado de prisão, acho que isso é o papel social do jornalista que se cumpra a justiça. Afinal, de ele cometeu um crime ele deve ser preso”, enfatizou Yago.

Veja o trecho do depoimento que Yago Sales fala sobre o caso do pastor foragido

A vida por um furo

Mesmo sabendo que cumpriu seu papel profissional, Yago Sales sabe que se arriscou na busca pelo furo.

“Foi uma série de dificuldades, tive que usar telefone pessoal, apurava usando transporte coletivo. Deixou o recado: tomem cuidado porque o que eu fiz foi de uma imaturidade muito grande”, destacou o jornalista.

Com todos os desafios enfrentados no trabalho de investigação do pastor, Yago Sales, soube da importância do trabalho de apuração mais aprofundada.

“ O caso do pastor foi o momento que eu consegui trazer algo que estava na frente de todo mundo. Mas ninguém tinha disposição ou interesse de apurar. Colocar a apuração em primeiro lugar é ser jornalista investigativo”, finalizou.

Por Afonso Ferreira, Guilherme Melo e Rayla Alves

Ainda na faculdade, o olhar investigativo de Yago Sales ajudou a prender um pastor evangélico que explorava e agredia internos em uma clínica para dependentes de drogas. Trabalho investigativo durou 4 meses e mostra que as investigações de impacto não são exclusividade de jornalistas experientes

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