Essência da Investigação
Marcelo Rech é jornalista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desde sua formação, em 1981, atuou boa parte da carreira como repórter especial, sempre vinculado a investigações e coberturas internacionais. O jornalista cobriu conflitos como a Guerra da Iugoslávia, em 1993, a Guerra do Golfo, em 1991, e a separação da União Soviética. Atualmente é vice-presidente Editorial do Grupo RBS e presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ). Rech também fez parte do primeiro grupo de brasileiros a ser enviado à Antártida, de onde enviou notícias para todos os veículos do país.
Para Rech, a própria natureza do jornalismo exige que o profissional seja investigativo. Ele ainda afirma que a essência do jornalismo é sempre trazer à tona algo que esteja escondido, principalmente quando o fato não pode ser revelado. Segundo o repórter, nem sempre o furo jornalístico parte de uma investigação e desvendar notícias de impacto social não é tarefa fácil. “O jornalismo investigativo é penoso e frustrante, pode acontecer de não conseguir terminar uma apuração delicada e ter que parar no meio do caminho”, afirmou.
Marcelo já noticiou alguns furos na carreira. Segundo ele, todo profissional que trabalha na área de investigação tem o desejo de levar a notícia em primeira mão para o veículo. Mas, ressalta que com o surgimento da internet a vontade de dar o furo ficou banalizada. “Os veículos vulgarizaram o furo. Às vezes um vazamento não apurado é considerado um furo. Mas essas informações têm quer ser checadas de todas as formas e é a partir daí que surge uma grande matéria investigativa”, avaliou.
Um dos principais furos da carreira do jornalista aconteceu quando ele descobriu um empréstimo falso de Fernando Collor de Mello, então presidente do Brasil. O empréstimo foi usado pelo ex-presidente para tentar justificar que sua campanha eleitoral não havia sido custeada pelo então empresário Paulo César Farias, o PC, e sim por este empréstimo. Mas a tentativa foi fracassada. Marcelo Rech foi até o Uruguai e consegui desvendar a fraude. Segundo Rech, no Uruguai existe a possibilidade de comprar “pacotes”, que são documentos falsos de empréstimos. De acordo com o jornalista, estes “pacotes” tinham o valor total de U$ 3 mil na época.
No Brasil, assim como em outros países, fazer jornalismo investigativo tem seus riscos. Rech conta que nunca sofreu ameaças, mas que já sofreu tentativa de suborno enquanto fazia apurações. “Já recebi bastante indiretas. Nem sempre no jornalismo investigativo ocorrem só ameaças. Há casos também em que os investigados tentam comprar os jornalistas. Já recebi uma oferta de emprego no meio da entrevista. Outro caso foi de um colega que recebeu uma oferta de um carro. Isso acontece bastante”, salienta Rech.
Censura e Ética
Outro problema frequente entre os jornalistas que produzem notícias sobre investigação é a violação à liberdade de expressão. No Brasil, o número de jornalistas que já sofreram algum tipo de censura é alto - entre 2015 e 2016 foram cerca de 216 jornalistas e veículos de comunicação afetados. Os dados são da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), em relatório divulgado em fevereiro de 2017.
A censura judicial é outro agravante bastante corriqueiro no jornalismo investigativo. O termo é utilizado quando um magistrado proíbe a publicação de uma determinada matéria por considerar que a divulgação apresenta violação à honra ou à privacidade. Foi o que aconteceu no caso da esposa do presidente da República, Marcela Temer, que conseguiu que dois grandes jornais de circulação nacional, “Folha de S. Paulo” e “O Globo”, apagassem de seus sites matérias sobre uma tentativa de extorsão promovida por um hacker contra ela.
Para Rech, a censura judicial é um recurso bastante prejudicial e perigoso. “Vemos juízes sentenciando liminares que impedem a divulgação de conteúdo. Também podemos ver juízes determinando a quebra do sigilo do jornalista. Isso é muito perigoso porque esta proteção está na Constituição e, no momento que quebra o sigilo da fonte, tanto a fonte quanto os jornalistas correm o risco após a publicação da reportagem”, destaca.
O Brasil está entre os países mais violentos da América Latina. E com os profissionais da imprensa não é diferente. De acordo com a Abert, o total de casos de violência contra estes profissionais foi 65,51% maior em 2016 em relação a 2015.
Marcelo fala um pouco sobre a violência no jornalismo.
A ética no jornalismo deve ser uma prioridade para os profissionais da comunicação. De acordo com Marcelo Rech, a ética é um tema que deve ser relevante aos jornalistas e precisa ser bastante debatido. Para Rech, o uso de grampos telefônicos, invasão de caixa de email ou o uso de outros artifícios para conseguir uma informação é antiético. O jornalista ressalta que “nenhuma matéria vale prejudicar uma vida e que é preciso levar em considerações tudo que pode prejudicar o outro lado”.
Por Afonso Ferreira, Guilherme Melo e Rayla Alves
Marcelo Rech atuou boa parte da carreira como repórter especial, sempre vinculado a investigações e coberturas internacionais. Atualmente o jornalista é vice-presidente Editorial do Grupo RBS e presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ)