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Jornalista fala de notícias que levaram à queda, grandes figuras políticas

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Quando o assunto é reportagens políticas investigativas, é muito provável que Andreza Matais esteja por trás das apurações. Havendo poucos registros sobre a participação de mulheres em reportagens investigativas no Brasil, ela é considerada uma das poucas jornalistas a atuar na área. Formada em jornalismo pela Universidade Católica de Santos, em São Paulo, no ano de 1998, Andreza afirma que a escolha pela carreira veio por influência de amigos.

A jornalista se tornou conhecida no país por revelar escândalos, como o da refinaria de Pasadena que é uma unidade de refino de petróleo que está localizada no Houston Ship Channel, umas das vias navegáveis mais importantes dos Estados Unidos. A refinaria tem capacidade para refinar cerca de 120 mil barris de petróleo por dia e entrou para o patrimônio da Petrobras em 2006, quando a estatal comprou 50% de suas ações.

Andreza também investigou a compra de medidas provisórias em 2015, que é um instrumento com força de lei, adotado pelo presidente da República, em casos de relevância e urgência. Produz efeitos imediatos, mas depende de aprovação do Congresso Nacional para transformação definitiva em lei. Seu prazo de vigência é de sessenta dias, prorrogáveis uma vez por igual período. 

Para a repórter, a investigação de um fato deve partir sempre do desejo do repórter em apurar bem a notícia. “O conceito de investigar não é algo que o jornalista já pega pronto da Policia Federal, do Ministério Público ou das fontes de informação. A notícia é tudo aquilo que nasce de uma apuração própria do repórter”. Ela ainda afirma que depois de algumas reportagens publicadas por meio de investigações envolvendo políticos e empresários, foram abertas CPI’s e inquéritos.

Andreza já passou pelos principais veículos de comunicação do Brasil: de repórter investigativa na sucursal da Folha de São Paulo em Brasília, em que venceu o prêmio Esso em 2012, por expor enriquecimento do ex-ministro Antônio Palocci, na época chefe da Casa Civil; a repórter do jornal O Estado de São Paulo, cargo ocupado desde 2013.

Para ela, o jornalista que gosta da área de investigação consegue enxergar com maior profundidade o lado da denúncia. “Quem cobre política e o dia a dia da Câmara dos Deputados, por exemplo, vai buscar analisar o que pode ser investigado.” Andreza diz que um dos métodos usados em suas reportagens é sempre investigar a fonte, independentemente do que ela tem a dizer.

Reportagens reveladoras

Andreza investigou o enriquecimento do ex ministro da casa Civil Antônio Palocci. Semanas antes de assumir o cargo mais importante do governo Dilma Rousseff, Palocci comprou um apartamento de luxo em São Paulo por R$ 6,6 milhões. Um ano antes, Palocci adquiriu um escritório na cidade por R$ 882 mil. Os dois imóveis foram comprados por uma empresa da qual ele possui 99,9% do capital.

Um fator determinante para aguçar o instinto investigativo que corre nas veias de Andreza foi quando, em 2006, ao ser eleitor deputado federal, Palocci declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio estimado em R$ 375 mil, em valores corrigidos pela inflação. Ele tinha uma casa, um terreno e três carros, entre outros bens.

Com o apartamento e o escritório, Palocci multiplicou por 20 seu patrimônio nos quatro anos em que esteve na Câmara – período imediatamente posterior a sua passagem pelo Ministério da Fazenda, no governo Lula. Nos quatro anos em que exerceu o mandato de deputado, Palocci recebeu em salários cerca de R$ 974 mil brutos. quantia insuficiente para pagar os dois imóveis por ele adquiridos e já quitados, de acordo com documentos aos quais a Folha teve acesso.Um ano antes, Palocci adquiriu um escritório na cidade por R$ 882 mil. A jornalista, incomodada com o enriquecimento do Ministro, pesquisou sobre os bens e por meio das investigações por ela encampadas, Palocci acabou deixando o cargo.

Em 2012, quando ainda trabalhava no jornal da Folha, a justiça de São Paulo determinou a quebra do sigilo telefônico de Andreza. O objetivo era identificar a fonte da jornalista que informavam sobre a abertura de uma sindicância no Banco do Brasil para investigar um depósito milionário em favor de Allan Toledo, ex-vice-presidente do banco.

Toledo foi preso em 2015, acusado de participação num esquema de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. As investigações que levaram à quebra de sigilo da jornalista foram abertas a pedido dele. O juiz Rubens Pedreiro Lopes, do Departamento de Inquéritos Policiais, afirmou que a quebra de sigilo era “indispensável para o prosseguimento das investigações”.

Quando usar microfone e câmera escondida?

Quanto ao uso do microfone, câmera escondida e grampos telefônicos, a jornalista afirmou que cada caso é um caso. Para ela, “cada matéria que a gente vai fazer a gente pensa o que pode ser feito ali”. Andreza não se apresenta como jornalista porque acha que, se ligar e pedir alguma informação e disser que é jornalista, ela não vai conseguir.

“Tem gente que não faz isso [de gravar uma conversa], pois acha que não é ético. Eu gravo o que não quer dizer que vá usar essa gravação. Mas eu acho que é uma proteção para mim e para dentro do jornal. Então eu gravo todas as minhas conversas. Agora todo mundo vai saber porque você vai escrever. Eu gravo e não aviso, se eu avisar pessoa vai falar comigo de um jeito diferente. Eu vou vendo o que é correto e o que não é, procuro sempre não cometer nenhum crime. Porém, também tento encontrar uma forma de não prejudicar o meu processo de apuração”, desabafa.

Por Afonso Ferreira, Guilherme Melo e Rayla Alves

Andreza Matais é considerada uma das poucas jornalistas a atuar na área de investigação

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